quinta-feira, 17 de novembro de 2016

café da manhã


Ela se levantou da mesa. 

Ele a fitou com um olhar fixo, de medo talvez. Não sabia aonde ela iria. 

E se realmente fosse embora? Não poderia suportar tal ideia. Ela era seu pilar, o que fazia ele ser o que era: O homem bem-sucedido; sem medo de arriscar; másculo; modelo de homem ideal na sociedade atual. Ela era apenas o que sustentava ele, que acolhia-o nas aflições, que dava concelhos, que mostrava onde ele estava errando e acertando, que motivava-o.

Agora ela se foi, não porque cansou dele, mas porque encontrou outra forma de viver. Queria conhecer novas pessoas e lugares. A vida é assim mesmo. Ela queria ser a protagonista da trama, não queria apenas abrir as cortinas para ele passar. E foi vendo as cortinas se fechando naquela manhã, com um gosto de café amargo, mal preparado, gelado, que ele chorou. Cada lágrima derramada não a trouxe de volta, a decisão dela era totalmente imune e qualquer movimento ou sentimento que ele ousasse ter.

Decisões para ela eram sem volta. E foi- se.

Ele não é mais o mesmo. Vendeu todas as ações, come e dorme mal. Não tem mais o brilho nos olhos, não busca mais algum futuro investimento. Liga a televisão de vez em quando, sai com o cachorro pela manhã, come algo pré-cozido à tarde. Ele sabe que não poderia mudar a opinião dela, ela é livre, ele é livre, mas para ele a liberdade não é assim tão prazerosa sem ela. Hoje está livre de todas as responsabilidades, mas se senti tão preso que ainda não conseguiu levantar da mesa de café. 

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