Ela se levantou da mesa.
Ele a fitou com um olhar fixo, de medo talvez. Não sabia aonde ela iria.
E se realmente fosse embora? Não poderia suportar tal ideia. Ela era seu pilar,
o que fazia ele ser o que era: O homem bem-sucedido; sem medo de arriscar;
másculo; modelo de homem ideal na sociedade atual. Ela era apenas o que
sustentava ele, que acolhia-o nas aflições, que dava concelhos, que mostrava onde
ele estava errando e acertando, que motivava-o.
Agora ela se foi, não porque cansou dele, mas porque
encontrou outra forma de viver. Queria conhecer novas pessoas e lugares. A vida
é assim mesmo. Ela queria ser a protagonista da trama, não queria apenas abrir
as cortinas para ele passar. E foi vendo as cortinas se fechando naquela manhã,
com um gosto de café amargo, mal preparado, gelado, que ele chorou. Cada
lágrima derramada não a trouxe de volta, a decisão dela era totalmente imune e
qualquer movimento ou sentimento que ele ousasse ter.
Decisões para ela eram sem volta. E foi- se.
Ele não é mais o mesmo. Vendeu todas as ações, come e dorme mal. Não tem mais o
brilho nos olhos, não busca mais algum futuro investimento. Liga a televisão de
vez em quando, sai com o cachorro pela manhã, come algo pré-cozido à tarde. Ele
sabe que não poderia mudar a opinião dela, ela é livre, ele é livre, mas para
ele a liberdade não é assim tão prazerosa sem ela. Hoje está livre de todas as
responsabilidades, mas se senti tão preso que ainda não conseguiu levantar da
mesa de café.