- Oi
Ele a olha com desejo quase animal - quanto tempo hein?
- você sumiu - ela não nota o olhar dele, mas devolve um de não acreditar no azar que deu de encontrá-lo. Ele não percebe.
O homenzinho cerca de seus cinquentasessenta anos se perde nos argumentos para justificar seus sumiços.
- tava trabalhando muito. Eu vivo indo para o interior, sabe… Marília, Atibaia.
- eu gosto muito do interior, pretendo me mudar daqui a uns doistrês anos.
- Ó, ó. Isso aí é bom. Não quer me levar junto? - pergunta ele com cinismo.
O sol não dá trégua, o ônibus não passa, a mulher sem jeito de dar um fora no chato, talvez por já ter vivido algo, responde sutilmente.
- Na verdade, vão me levar.
A piada não surte o efeito desejado, o cara é mais direto
- você está mais linda do que antes, já casou?
- estou enrolada.
É o estopim para o desapontamento. Mas a cachaça previamente tomada já subiu a cabeça e de rosto vermelho pelo álcool pelo sol já entrega o que o bafo revelava.
- Ah. Hum. Enrolada...
Ele não consegue achar nenhuma frase de efeito.Uma sinapse escapa da mente turva.
- você pode desenrolar dele que a gente casa da noite pro dia - diz ele como tentativa.
A mulher, de vestido, no sol, esperando o ônibus, ri da ousadia do homem. Um pouco da sensação de sentir-se desejada toma a mente dela, aliás já passou dos 40 e já aguentou duas gravidezes .
Está bem conservada, como observa ele.
- tem tanto lugar bonito, o que falta é o dinheiro pra conhecer tudo. - diz ela na inocência de encerrar o assunto.
- eu te levo pra ó. Santos, Bahia, Ilhéus e ... Porto de Galinhas.
O ônibus não passa, o sol também não.
Ela disse que vai casar com o outro daqui a trêsmeses.
Ele diz que precisa levar o filho adolescente ao dentista.
- se cuida - ela diz
Ele levanta a mão com o corpo já de costa.
A mulher tem a testa, o buço, os seios suados. O ônibus vem lá no fim da rua.
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