sexta-feira, 16 de junho de 2017

A Rabugenta



A senhora da minha rua era rabugenta, isso não podíamos negar.

Ela vivia varrendo a calçada e xingando sem parar, maldizendo alguém e fofocando sozinha. Quando jogávamos bola na rua, ela ameaçava rasga-la caso batesse na mureta da sua casa ou caísse no seu quintal. A gente ria, tirava sarro dela.
Anos depois fui visitar minha mãe e perguntei da tal senhora, ela já devia ter morrido com certeza.
Mas a verdade é que ela se encontrava no asilo do bairro.
Decidi ir visita-la. Cheguei na recepção e perguntei pelo nome da mulher, eles me indicaram o quarto dela. Me deparei com a mesma cara que conheci na infância, ela perguntou quem era e o que eu queria. Disse que não enxergava muito bem.
Contei para ela quem era e que queria saber o motivo daquela raiva toda que ela tinha alguns anos atrás.
Ela então contou que naquela época foi quando seu marido havia morrido, seu único companheiro, o amor da sua vida e que o que mais sentia falta era gritar e discutir com ele, como morava sozinha, discutia com o mundo.
Naquele momento entendi aquela senhora, lembrei do semblante dela quando eu era criança. De como tinha lagrimas prestes a cair, o rosto desolado.

Saí do asilo sabendo que um dia podia ser eu o rabugento. 

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